Carvalhal da Aroeira: como um livro juntou um povo

08-07-2012 18:00
Carvalhal da Aroeira: como um livro juntou um povo
Dir-se-ia que a população inteira do Carvalhal da Aroeira acorreu, no domingo, ao lançamento de ”Carvalhal da Aroeira, memória de um povo”, tal foi adesão de tanta e tanta gente que se deslocou à antiga capela de São Silvestre. Luís Sousa, o autor do livro, teve razão para se comover.
 

 

 

A velha capela de São Silvestre, o local com maior significado histórico para a população do Carvalhal da Aroeira, foi o local escolhido para a apresentação pública de uma monografia que versa, exactamente, a história, o património, os usos e os costumes desta aldeia da freguesia de São Pedro de Torres Novas. O autor, Luís Correia de Sousa, com formação universitária em ciências musicais e doutoramento em história de arte, denotava grande contentamento pelo carinho dos seus conterrâneos e, no seu discurso, foi traído várias vezes pela emoção ao referir-se ao simbolismo especial do velho templo, elo de ligação às vidas de milhares de habitantes da aldeia que durante séculos ali se baptizaram, ali casaram ou ali foram sepultados (até ao início do século XX, o velho cemitério era contíguo à capela).

O simbolismo e a importância história da velha capela foram a tónica das palavras de João Carlos Lopes, que se referiu ao livro de formas entusiástica. Com a publicação, disse, o Carvalhal passa a ser uma terra imensamente mais rica, considerando que o autor teve a percepção de que vivemos os últimos momentos de podermos contactar com uma geração que ainda viveu a ruralidade e que nos pode transmitir o conhecimento e os saberes de uma forma de vida que durou centenas de anos e que acabou em meados do século passado. João Carlos Lopes disse ainda que o livro traduzia uma grande qualidade de escrita e que podia ter sido escrito por um etnólogo ou um antropólogo, tal o rigor e o detalhe que o autor colocou na recolha etnográfica que pacientemente levou a cabo.

Rosa Portugal, professora e amiga do autor, apresentou detalhadamente os conteúdos do livro, que inclui uma breve abordagem da história da aldeia, a descrição de todo o seu património cultural edificado, os usos e costumes relativos ao passado rural da aldeia (calendário agrícola, artes e ofícios tradicionais), as manifestações de religiosidade e festas cíclicas, as artes populares e os divertimentos, a gastronomia tradicional, o registo em pauta de cantigas tradicionais, entre outros aspectos.

Encerrou a sessão o presidente da câmara, que considerou o livro uma ”autêntica obra de arte”.

Na cerimónia, que reuniu algumas centenas de pessoas, participaram o antigo coro ”Letícia”, formado por jovens do Carvalhal há algumas dezenas de anos e que se reuniu para o efeito, Bernardette Pereira, que leu poesia portuguesa e ainda a jovem flautista Sofia Reis Heleno, acompanhada à guitarra pelo próprio Luís Sousa, que também é músico.

O livro, editado pelo município de Torres Novas, vai estar à venda nas livrarias da cidade, na biblioteca municipal e, no Carvalhal da Aroeira, no Centro de Dia São Silvestre e no bar da colectividade.

F.G.